74ª PROVA CICLÍSTICA INTERNACIONAL 9 DE JULHO: LONGE DO GLAMOUR DA PAULISTA, KLEBER 'BOZÓ' VENCE NA VIA ANCHIETA E REALIZA SONHO

Fuga de 9 ciclistas determinou o ritmo da corrida desde os primeiros km na via Anchieta, que terminou em sprint disputado por Kacio Freitas e Kleber Ramos, que se saiu melhor e conquistou a sonhada vitória.

O sonho do ciclista brasileiro Kleber Ramos da Silva (Pindamonhangaba Cycling Team), carinhosamente apelidado de por seus companheiros como 'Bozó', se realizou nesta segunda feira fria e chuvosa no ABC Paulista. O ciclista de 38 anos foi o grande vencedor da clássica 74ª Prova Ciclística Internacional 9 de Julho, realizada num percurso inédito de 104 km, entre as rodovias Anchieta e Imigrantes, com o tempo de 2h12'13".

Largada do pelotão masculino, com as categorias Elite, Sub-23, Junior e Master, aconteceu no km 10,4 da Rodovia Anchieta, próximo à base do policiamento Rodoviário, em São Bernardo do Campo (SP).

@Eduardo Santos

Segunda corrida de bicicletas mais antiga do Brasil, - atrás apenas da São Salvador, de Campos de Goitacazes (RJ), a 9 de Julho completou 74 edições, com largada e chegada no km 10 da via Anchieta, que liga a Capital paulista à Baixada Santista, teve a participação de 300 atletas, distribuídos nas categorias, Elite e Sub-23 (masculino e feminino), Junior e Master.

O pelotão principal largou às 7 da manhã, com frio, temperatura por volta de 13 graus e chuva fina, que acompanharam os competidores durante toda prova, se intensificando nas proximidades da Serra do Mar, no trecho da interligação das rodovias.

Debaixo de uma chuva fina e frio, o pelotão principal seguiu compacto durante toda prova, num total de 104km.

@Eduardo Santos

Até esse ponto, inclusive o pelotão seguia compacto, apenas com breves tiros de 'coelhos' que deram ritmo na prova nos primeiros quilômetros, mas a partir do cotovelo da alça de acesso à interligação foi que um grupo de 9 ciclistas desenhou a fuga, que seria predominante durante todo o resto da corrida, até o sprint final.

Entre os escapados, a equipe mineira Swift Carbon Pro Cycling colocou 3 atletas, que ditaram o ritmo da prova. Kácio Freitas, Lauro Chamam e o sub-23 Otavio Gonzeli, que fez bonito ao lado dos mais velhos. Junto deles, João Gaspar (Agi Cycling Team), Kleber Ramos (Pindamonhangaba Cycling Team), Bruno Martins Lemes (São José Ciclismo), Victor Andrade (Taubaté Cycling Team/Tarumã), Marcio Bigai (Famiglia Squadra Pro Cycling), sem exceção, deram duro, cortando o vento e não deixando que o pelotão se aproximasse, com gap de fuga que variou entre 2 e 3 minutos até o final.

E foi assim, que faltando poucos metros para a chegada veio a definição do vencedor quando Bozó sentiu o momento da subida e atacou para superar Kácio Freitas (2o colocado) e colocar seu nome na história da prova.

No 'cotovelo' da interligação Sistema Anchieta-Imigrantes o cuidado com as quedas foi redobrado, exigindo perícia e redução velocidade dos competidores.

@Eduardo Santos

O paraibano de Kleber Ramos - veja perfil do atleta abaixo - foi o mais rápido em uma fuga de 9 ciclistas. A vitória veio com uma média de 47km/h. "Foi um sonho realizado", diz o campeão na entrevista pós-prova. Em maior número na fuga, com três ciclistas, a Swift Carbon teve que se contentar com um novo vice-campeonato de Kácio Freitas e a vitória na sub-23 com Otavio Gonzeli, com o tempo de 2h12'19" Bozó comenta sobre a escapada dos 9 ciclistas:

"Foi uma fuga logo no início. Me sentia muito bem. Meus companheiros confiam em mim, a equipe confiou em mim. Era uma chegada que era pra cima, era uma boa pra mim. E eu fui feliz. E é um sonho vencer essa prova aqui. É demais, é um sonho realizado."

O vencedor também destacou a colaboração com revezamento na ponta entre os fugitivos, que foi fundamental para o seu êxito na prova:

"A gente colaborou, todo mundo colaborou", diz Bozó. "E a (equipe) Swift que vinha com mais quantidade, com uns três atletas", lembra. "Mas eu vim me sentindo bem. E como eu te falei, em uma chegada que era boa pra mim. E fui feliz de ganhar essa corrida aí, que pra mim é um sonho."

Na passagem pela via Imigrantes, Kleber Ramos (7) lidera os fugitivos, que andaram em um bloco de 9 ciclistas desde os primeiros quilômetros e determinou o ritmo da prova.

@Eduardo Santos

O campeão revela o detalhe do sprint final na rodovia Anchieta:

"Eu esperei minha distância. Quando eu vi que era a minha distância, eu tentei e fui até o final e fui feliz, graças a Deus. Só tenho que agradecer à equipe, minha esposa e à a minha família que está na Paraíba, só tem que agradecer a eles", diz Kleber Ramos.

Ele não esconde a satisfação de colocar o seu nome na história da 74a da Prova Ciclística Internacional 9 de julho, extravasando a sua emoção:

"É como eu te falei, é um sonho realizado, porque é uma prova muito antiga, era uma vontade que tinha de ganhar e hoje eu me encontrei com boas pernas e fui feliz aí no sprint."

O grupo de escapados foi colaborativo em todo percurso, com revezamento de todos, sem exceção, o que determinou o ritmo da corrida.

@Eduardo Santos

Ele ainda conta um pouco sobre esse desafio de estrada e o tempo adverso, com frio e neblina.

"Foi um espetáculo a corrida para a gente aí que é amante de ciclismo. A corrida foi espetáculo. A rodovia bacana demais, e toda pra gente aí, eu só tenho que agradecer à organização e a federação paulista por esse grande evento", falou o campeão.

O pelotão principal chegou três minutos e meio depois trazendo com ele os campeões da Máster, Pedro Barbosa (Assos Brasil) com o tempo 2h15'48" e da Júnior, Lucca Marques Ferreira Silva (Indaiatuba Cycling Team), 2h15'47".

Kleber Ramos, mesmo sem bandeirada de chegada, cruza a linha com o tempo de 2h12min13seg.

@Eduardo Santos

Wellyda Rodrigues, completou a dobradinha de Pinda e venceu no feminino

No feminino, o pelotão menor trouxe outra dinâmica. O grupo de 42 ciclistas não permitiu que nenhuma fuga se formasse, mesmo com inúmeras tentativas de ataque. Faltando 400m para a chegada, Wellyda Rodrigues (Pindamonhangaba Cycling Team) saltou sem que nenhuma outra ciclista conseguisse seguir sua roda. É a segunda vitória dela, que já havia vencido em 2017, ainda como sub-23.

As mulheres largaram para os 74km de prova logo em seguida ao final da masculina. Wellyda conseguiu, assim, umas dicas com seu companheiro de equipe, campeão no masculino. "Eu falei com o Bozó e ele me disse para não dar (tudo) muito longe, porque vai subindo e vai queimando. Então eu fiquei esperta e quando deu o meu momento, eu sai e deu bom. Estamos muito felizes pela dobradinha, pode ter certeza disso", disse a atleta.

Ana Polegatch (Indaiatuba Cycling Team) fechou a prova em segundo e Ana Carolina Ribeiro Leal (avulsa) foi a terceira geral e campeã na sub-23.

PERFIL DO CAMPEÃO DA 74ª PROVA 9 DE JULHO:
KLÉBER RAMOS DA SILVA, DE 38 ANOS, CICLISTA DA EQUIPE PINDAMONHANGABA CYCLING TEAM

Kleber Ramos durante a prova de ciclismo de estrada na Olimpíada Rio-2016.

©Paul Hanna (REUTERS)

O ciclista, apelidado no pelotão de "Bozó", é considerado um velocista, o que é sustentado por resultados em provas planas como o 5º lugar na Copa América de Ciclismo de 2008, o 4º lugar na Prova Ciclística 9 de Julho de 2010 ou os vários resultados em etapas planas em competições ciclísticas por etapas. Entretanto, em mais de uma ocasião mostrou habilidade se defendendo nas subidas, como na Volta do Paraná de 2007, onde foi o 4º lugar na classificação geral, e no Tour do Rio 2012, o qual venceu, levando ainda a 3ª etapa, a principal de montanha da corrida. Em uma entrevista na situação, Kléber Ramos se definiu como "um sprintista que se defende bem em montanha"

Ciclista disputou as Olimpíadas do Rio de Janeiro e acabou punido por utilizar uma substância que melhora a capacidade de oxigenação muscular. Quatro anos após a suspensão por doping, o ciclista Kleber Ramos retornou às pistas. Aos 36 anos, o paraibano, conquistou a 17ª Volta Ciclística de Goiás em 2020, voltando a competir em alto nível depois de viver um momento conturbado na carreira, retomando para as pedaladas justo num ano marcado pela pandemia da Covid-19.

Foi no ano de 2016 que a União Ciclística Internacional (UCI) decidiu pela suspensão de quatro anos de Kleber Ramos por doping. Na época, o teste do brasileiro apontou a presença de CERA, uma substância semelhante ao EPO (eritropoietina), que aumenta a quantidade de glóbulos vermelhos no sangue e, consequentemente, melhora a capacidade de oxigenação muscular. Além da punição, ele deixou a equipe Funvic, de São José dos Campos, no interior de São Paulo.

Diante de tudo isso, Kleber revelou que cogitou deixar o esporte, mas seguiu firme durante os quatro anos de parada forçada.

- Foi um período complicado. A minha vida inteira praticando ciclismo. Eu cresci no ciclismo. Chegou uma hora que pensei em desistir, disse que não queria mais, porque era um período muito longo de parada. Para quem é atleta, quatro anos passam muito devagar - disse Kleber na época.

Resultados da 74ª Prova Ciclística Internacional 9 de Julho

Elite Masculino (104km)
1 - Kléber Ramos (Pindamonhangaba Cycling Team) - 02h12min13s
2 - Kácio Freitas (Swift Carbon) - 02h12min13s
3 - João Gaspar (AGI Cycling) - 02h12min13s
4 - Bruno Lemes (São José Ciclismo) - 02h12min14s
5 - Victor Andrade (Taubaté Cycling Team) - 02h12min14s

Elite Feminino (74k)
1 - Wellyda Rodrigues (Pindamonhangaba Cycling Team) - 1h55min56s
2 - Ana Paula Polegatch (Indaiatuba Cycling Team) - 1h55min58s
3 - Talita da Luz de Oliveira (Abec Rio Claro) - 1h55min59s
4 - Nicolle Borges (Abec Rio Claro) - 1h56min00s
5 - Larissa Castelari (São José Ciclismo) - 1h56min02s

Sub-23 Masculino (104km)
1 - Otavio Gonzeli (Swift Carbon) - 2h12min19s
2 - Vitor Pompeu (Soul Santos) - 2h15min47s
3 - Julio Mateus Silva (Soul Santos) - 2h15min48s
4 - Pedro Henrique Kunst (Taubaté Cycling) - 2h15min49s
5 - Hugo Viviani (Açaí Conexão Amazônia) - 2h15min49s

Sub-23 Feminino (74km)
1 - Ana Carolina Ribeiro Leal (Avulso) - 1h55min59s
2 - Ana Julia Alves (Avulso) - 1h55min59s
3 - Ana Paula Finco (São José Ciclismo) - 1h56min00s
4 - Maria Julia Vieria (Team Altino/Osasco) - 1h56min06s
5 - Letícia Cobeio (Lulu Team) - 1h56min18s

Máster Masculino (104km)
1 - Pedro Barbosa (Assos Brasil) - 2h15min48s
2 - Michel Amador (Escalera) - 2h15min48s
3 - Diego Lima (Monte Team) 2h15min51s
4 - Erick Garcia (Aurum Safetti) - 2h15min51s
5 - Vinicius Barbosa (Vini Bike Team/Praia Grande) - 2h15min53s

Legenda da imagem principal:

Kléber Ramos (Pindamonhangaba Cycling Team) foi o mais rápido no sprint final, depois de uma fuga de 9 ciclistas logo no início da prova. A vitória veio com uma média de 47km/h.

Foto principal: ©Eduardo Santos

Eduardo Santos

Diretor de Redação da Revista Bicycle